1 de março de 2012

Academia em loop infinito



A academia deveria passar os próximos anos a todo vapor tentando responder à pergunta: “como tornar o conteúdo de artigos acadêmicos atraente o suficiente para que as mentes transformadoras da nova sociedade possam consumi-los e, com isso, esses artigos gerem real impacto na construção de um futuro melhor?”
Artigos acadêmicos talvez sejam, para o cidadão comum e até para alguns acadêmicos, a mídia mais chata do mundo para se consumir. Doutrinados a gerar textos nada divertidos, contendo quase nenhuma narrativa, autores de artigos acadêmicos explicam as coisas citando somente autores de outros artigos acadêmicos e esses o fazem citando outros autores acadêmicos …. Pois é, a cascata de chatice e monotonia não tem fim.
Esse processo, exigido pela academia para que os artigos tenham validade, gera dois problemas graves. O primeiro é a total amputação da capacidade narrativa do pesquisador acadêmico, que, por ser doutrinado a escrever de maneira monótona, acaba com uma dificuldade tremenda de fazer o seu ponto valer e, mais do que isso, tornar o seu ponto interessante para quem está disposto a, através dele, construir e transformar as coisas.
A segunda é que a exclusão de outras fontes parte da premissa de que todo o conhecimento está contido em artigos acadêmicos, portanto eles são suficientes para embasar qualquer argumento novo. O que também não é verdade.
Pense nos criadores do Facebook ou até mesmo em qualquer outra start-up que está nascendo (ou morrendo) nesse momento, enquanto você lê este artigo. Qual a chance dessas pessoas se cercarem de artigos acadêmicos como fonte de conhecimento para alavancar seus empreendimentos? E sobre a chance delas escreverem artigos acadêmicos sobre suas experiências com eles? Zero.
Muitas das mentes brilhantes que viveram nas últimas décadas escolheram publicar seus achados em livros, blogs e afins. Essas  fontes são, literalmente, invisíveis para a academia. Ou seja, impossíveis de serem citadas e consideradas fontes “não confiáveis” para embasamento de conceitos.
Isso, talvez, tenha funcionado quando existiam apenas engenheiros, médicos e advogados no mundo. Hoje, diversas áreas de expertise foram melhor desenvolvidas, ou já nasceram fora da academia, obrigando-a a fazer o processo contrário e se adaptar para trazê-las para dentro de sua estrutura.
É utopia imaginar que, nesses e em outros casos, a primazia do conhecimento reside sempre e exclusivamente no contexto acadêmico.
Ao mesmo tempo, é delírio dizer que a massa de conteúdo gerada o tempo todo pela academia não pode ajudar. Sem dúvida alguma a academia detém conhecimento que pode ser extremamente útil para qualquer empreendedor em qualquer indústria. Conteúdo não é o problema. Mas de fato, artigos acadêmicos são projetados para quem consumir? Acadêmicos.
Mas se o conhecimento gerado na academia é formatado para acadêmicos consumirem, como esse conteúdo toca o chão no dia a dia da sociedade?
Bem … Ele depende de autores de livros que consomem esse conteúdo e geram versões “user-friendly”  do mesmo.
Esse modelo coloca a academia em loop infinito, gerando conteúdo para seus próprios integrantes consumirem e torcendo para que alguém faça a tradução do mesmo em formato mais interessante para o cidadão comum. Tradução essa que irá assumir o formato geralmente de um livro de prateleira, e, com sorte, se destacar no emaranhado de outros livros para, no fim, ser creditado como fonte “não citável” pela mesma academia que influenciou a sua criação.
Que sentido isso faz?
A exigência por parte do corpo diretivo dessas enormes instituições para que se crie um formato monótono e autista de representação de conteúdo cria um abismo que atravanca o desenvolvimento da sociedade pois distancia as pessoas comuns dessa importante fonte de conhecimento.
É fato que de citação em citação não se muda o mundo. O conhecimento precisa chegar à mão das pessoas que estão construindo a mudança. E, de alguma maneira, quebrar as barreiras para se integrar aos hábitos de busca pelo conhecimento dessas pessoas.
A indústria do livro está se reinventando para se tornar mais atraente.  Já passou da década da indústria de artigos acadêmicos fazer o mesmo.

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